terça-feira, março 11, 2008

A pequena estória de um sonho


Um garoto nasceu frágil, os ossos dele carregavam nada além que os nutrientes necessários para manter o corpo torto de pé; não podia quase nada, não sabia nada além - falava baixo, comia pouco, era mínimo. Porém, fora-lhe dado um dom: construir sonhos. Deus, o Universo, a Natureza, o Vento, sabe-se lá qual o nome usado para designar o inatingível, havia dado-lhe apenas esta chance: construa sonhos, pobre diabo! E construiu alguns em areia branca - todos levados pelo vento. Desta vez não foi diferente. Recolheu os cacos que a dor espalhou pelo chão onde pisava e com eles tentou empilhar uma forma, se não lógica, pelo menos febril. Construiu com isto uma cidade. Longa, sinuosa, montanhosa, quebradiça, louca. Nela, só se poderia chegar pelo vôo - somente àqueles que voavam era dado o dom de atingi-la. Sonhos são assim, cheio de regras a-lógicas. E lá estava o sonho em cidade; a água, o fogo, o pó e o ar....... o ar...... o elemento principal do sonho. E este sonho-cidade fora construído para uma Estrela. Então, estavam lá o garoto frágil e a Estrela habitando o sonho. A alegria era tanta, o medo voraz, a vontade volátil, os gestos mínimos como o sopro da inspiração. As ruas rachavam e a lágrima rolava a cada estilhaço. A Estrela de tão inatingível, impassível, planava, desaparecia, queimava - guardava entre as mãos uma vida secreta & um mutismo pungente. E o sonho grande, louco, antigo, prometendo o futuro, caindo em fumo branco, neblina tensa, desejo tanto. E desejo cheio de obstáculos que a fragilidade tanta só se fazia dor... a vida secreta entre as mãos.... o tempo escorrendo rápido rumo ao Oceano... Ainda havia a música, fora ela que dera a liga necessária para que tudo tudo não passasse de desejo... a música prometia uma dança..... e lá na escuridão do salão, no anúncio do fim do sonho, o garoto conseguiu algo: um sorriso da Estrela. Toda a dor se fez SIM. E de tão louco e delirante imaginou o SIM como DANÇA.... e se abriu, se tornou forte, além, quase TUDO.... e diante de tal estupor estendeu, sem medo, a mão para a Estrela........ que lhe negou a dança......


..... surgiu-lhe então a dançarina em fogo e com os quadris lhe disse: você pode tudo, eu sei!....



.... a Estrela guardava em suas mãos a vida secreta.....


.... o Garoto sabia que não podia nada, os quadris não dizem verdades, só seduzem...


.... o sonho estilhaçou e palavras duras, erradas, burras saltaram de sua boca....


.... e foi assim que mais uma cidade, mesmo em pedra, se tornou fumo.

Um comentário:

Elaine Cristina disse...

Gostei do blog... Muito lindo esse texto!
Bjo