quarta-feira, março 28, 2007

Aberrações


Dentro de cada um há algo que não pode [ou não quer] se manifestar. Há tantas camadas entre o self [a intimidade pura] e o mundo externo que demandaria uma energia psíquica gigantesca para que o que não-pode-ser-pronunciado se mostrasse à luz exterior. Um sussurro gasto ou um grito louco poderia ser o bastante; mas não é, pois ninguém entenderia.

Um clima sombrio, permeado pelo silêncio e iluminado por um tom ocre, emula a vastidão claustrofóbica que é o meio-oeste norte-americano retratado pelo texto de Steve Niles. Greg Ruth, o desenhista, carrega o ar com uma ambientação de uma sutileza desesperadora. Ler a HQ Aberrações no Coração da América é isto: compartilhar a solidão dos excluídos - e todos, no mais profundo, temos um quê de solidão.

Trevor, já adulto, rememora seus tempos de criança. No ambiente acima descrito, o pai opressor, sempre bêbado, e a mãe aprisionada por um silêncio submisso e pela violência do marido, não são o que há de pior. Por algum motivo não explicado, simultaneamente em diferentes famílias, na região vieram à luz crianças com aberrações genéticas que são, pelos pais, aprisionadas em porões. Mas, por mais diferentes que essas crianças sejam, ainda pulsa nelas aquele silencioso sopro de vida que temos, escondido em algum lugar, e que nos faz lembrar que [apesar de tudo] somos humanos.

Exclusão, submissão, silêncio, solidão, solidariedade e busca pela liberdade são as atitudes [humanas, demasiado humanas] retratadas de forma magistral por Niles e Ruth.

Se você ainda possui aquele ranço pseudo-erudito e pensa que os quadrinhos são uma forma de arte menor [ou, que heresia!, nem uma forma de arte] é bom correr a uma livraria mais próxima e adquirir o seu volume de Aberrações no Coração da América - ou vir aqui em casa e pedir-me o meu emprestado - e conferir por que há muito mais entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia pode supor. ;)

domingo, março 18, 2007

Minha (pequena) coleção de cds

Nestes tempos de fim do cd, paradoxalmente, aumentei meu consumo deles. O acesso ao .mp3, via torrents, emules e cia., permitiu-me aumentar consideravelmente meu universo musical. Se antes eu vivia de reciclagens de gostos antigos, hoje consigo garimpar na net não só os históricos discos de rock/jazz/mpb como me localizar com certa desenvoltura no que há de mais novo no mundo da música pop. Assim, estou tornando-me um consumidor voraz de música - para cada Freak Out! baixado, um Sky Blue Sky é ouvido. Entretanto, como disse acima, meu consumo de cds aumentou. Devo ser um louco.
Explico: a "moda" do Lp não me cativou; primeiro, porque não possuo um grande tocador de Lps e o som daqueles tocadores comuns de Lps não ajuda em nada; segundo, a maioria dos Lps encontrados em sebos não estão em boas condições e são relativamente caros. Quer dizer, somando-se o primeiro motivo com o segundo temos algo próximo do insuportável. Tenho alguns Lps, sim, em casa, mas somente por motivos decorativos e/ou de "pesquisa". Enfim, enquanto não possuir uma grana boa para investir em um bom toca-discos e discos de qualidade continuarei comprando cds. Querendo ou não, é mais fácil conseguir um cd com som melhor.

Mas afinal de contas por qual motivo continua comprando cds se pode ter acesso à eles de graça na net? - perguntaria um eventual leitor. Pelo simples motivo de que ter uma coleção de cds é demais! Não, não sou tolo. Como qualquer pessoa comum, dificilmente compro cds a preços proibitivos. Sempre prefiro comprar um dvd ou um livro ao preço de 40 dinheiros do que um cd. Sempre. Quando compro cds o faço quando é um cd histórico - tipo esta coleção da Som Livre, ou clássicos do rock - e/ou está com um preço amigável; ou seja, menos de 30 paus...
Enfim, estou com um coleção não muito grande de cds em casa, mas tenho certo prazer em tê-la; tipo é aquela coisa: é pequena mas é minha.
Moral da história: .mp3 é legal (e muito!) mas poder "tocar a música" é muito mais - é muito boa a sensação de tirar o cd da caixa enquanto a música toca e folhear o encarte, reparando na arte e, vez ou outra, conferir quem tocou qual instrumento em determinada faixa ou quem produziu o álbum. Enfim, é bem provável que eu seja, na melhor das hipóteses, uma espécie neo-romântico ou, desconfio, algum maníaco; mas o fato é que, nesta altura do campeonato, continuo comprando cds; e o melhor... com certo prazer!!! =)