
Acordei adensado na multidão espalhada pelo largo da Cinelândia - a roda de amigos na mesa de bar povoava de reminiscências tudo em redor. A gordura volátil no ar, o gosto de álcool na língua. Fumaça branca e olhos amendoados. Figuras estranhas, vultos que iam-viam para algum lugar naquelas pedras; belezas engraçadas, contidas. A coloração da pele, os corpos, os trajes, tudo era muito desigual. Multidões de uma metrópole fragmentada. Antiga sede do Império, atual rosto da República. As estátuas falam menos para os homens que para os pombos, semideuses como ratos alados em suas penas cinzas a disputar migalhas com os vermes. Tudo parece um jogo de sentidos. Táxis velozes, poluição, museus. A Biblioteca Nacional e seu arcaísmo figurativo deixa passar ao lado os mesmos peões que se empoleiram nas praias, nos bares, nos lixões. O Museu de Belas Artes pareceu-me repulsivo, deixou-me introspectivo, nada ali fazia sentido; somente reproduções, estátuas e salões amplos limpos vazios. A Arte morreu. A arte Migrou. É dela as ruas & nas ruas nada nada mais. Fato. Assim como o metrô solar do Rio, recendendo a alegria, mostra a displicência carioca, o metrô febril caótico veloz de São Paulo joga de um lado para o outro os sempre-apressados paulistanos. Aqui somente carros motos ônibus cheios & praças sendo destruídas em nome da morte do caminhar. É assim. Sempre foi. Corremos atrás de quem correu primeiro. Somos pequenos, nadas. Deixem as máquinas passarem. Parem as máquinas - há suicidas na linha do metrô. No Rio a pobreza se verticaliza, mostra os dentes sorrindo rugindo, aponta ao céu. Comoveu-me antes a Favela da Rocinha e sua Ode Grandiosa à pós-modernidade do que o Cristo Redentor longe muito alto na sua art-déco pra gringos e sua condescendência fascista fotografarem - estilhaços sobre Copacabana Ipanema. Decadência. Delírio. Aqui a pobreza se

4 comentários:
O Rio me pegou aos poucos - primeiro fui levado pela idéia televisiva de "perigo constante". Mas logo eu vi tudo - por exemplo, Laranjeiras. E satisfeito sorri.
mas isso aqui está às moscas. cadê o proprietário? o gerente? o ombudsman, para ouvir minhas queixas? onde é que vamos parar, eu me pergunto.
parou. acho.
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