sexta-feira, abril 27, 2007

Minoridade penal


Foi aprovado ontem, dia 26/04, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, o projeto para a redução da maioridade penal para 16 anos. Assistindo ao Jornal Nacional vi, pela risadinha de escárnio da apresentadora, Fátima Bernades, que a nação (?) endossa a lei com certo gozo. Sinceramente, não vejo graça nenhuma naqueles senhores gordos decidindo o futuro (?) do país; ainda mais em questões tão sérias como violência/criminalidade ou educação. Também, claro, não sou tolo de achar que os criminosos são pobres-coitados-frutos-de-um-sistema-podre e, por isso, devemos esperar dos céus uma solução rápida, fácil e... errada! Não, nada disso. A questão toda, penso, é que nesse caso estarão, os senhores políticos, fazendo um jogo com a população em que os maiores beneficiados serão eles mesmos (os políticos, claro!) enquanto a sociedade brasileira como um todo sairá perdendo, como sempre. Uma questão tão delicada quanto essa não pode ser aprovada assim tão facilmente; é necessário não só um diálogo mais amplo com a população, como reformas profundas na sociedade. Além do mais, sabemos que o sistema de encarceramento como forma de punição é nada mais que um processo de produção em série de marginais... Se aprovado esse projeto de diminuição da maioridade penal o problema da criminalidade não será resolvido (nem debatido) e, ato contínuo, os presídios públicos (além de superlotados) formarão criminosos cada vez mais perigosos com uma idade menor. Ou seja, o que já é ruim pode piorar.

quarta-feira, abril 18, 2007

O Cheiro do ralo


O Cheiro do Ralo, filme baseado no romance homônimo de Lourenço Mutarelli, beira a genialidade. Sério. Ainda assistindo, em meio a gargalhadas, pensava com certa inveja que queria ter escrito algo parecido. Melhor, queria ter sido eu o autor de O Cheiro do Ralo. Pretensão? Babaquice? Pode ser, mas o fato é este mesmo: o enredo é ao mesmo tempo tão banal e tão genial que qualquer um poderia ter escrito; mas somente Mutarelli o fez. Estória (história?) típica de um paranóico: cheia de obsessão, mania de perseguição e megalomania. Lourenço - interpretado por Selton Mello - é um comprador de objetos usados que se vê obsecado por uma bunda e perseguido pelo cheiro do ralo do banheiro do escritório [surreal] em que trabalha. Nada incrível, certo?! Mas a maneira como foi executada a idéia (e nisso entra o mérito inegável tanto dos roteiristas e diretores, quanto dos atores) deixa a coisa toda mais delirante do que a estória a princípio pode parecer. Figuras impagáveis, situações non-sense e um humor caustico [longe da prisão do politicamente-correto] compõem o ambiente de um dos melhores filmes brasileiros que vi ultimamente. O melhor do filme, a meu ver, é que sai daquele esquemão nordeste/pobreza/coitadinho-de-nós típico do cinema nacional. A imersão total no ambiente urbano e referências ao mundo pop [a cena em que a ex-atriz-cantora-e-modelo (sic) Tiazinha cita Nietzsche é simplesmente impagável] produzem aquela identificação quase imediata a que me referi acima, a ponto de achar que posso fazer igual. O Cheiro do Ralo é um filme simples e direto, mas não superficial. Por isso bom.

segunda-feira, abril 09, 2007

Semana santa


Neste fim-de-semana prolongado fui de bicicleta a um parque da cidade na tentativa de pegar uma sombra e imergir na coletividade. O caminho é suave; um ou outro carro zune, alguns buracos nas ruas, um ipê deita suas folhas na calçada rachada e pássaros brincam no crepúsculo - no feriado a urbe sorri, descansada. O anel externo do parque expele pessoas sorridentes, enquanto atletas de fim de semana esforçam-se em busca de uma vida que a correria semanal não permite. Invado aquele oásis guiando minha bicicleta por entre as árvores... eis que surge um policial fardado de maneira jovial em uma mountain bike da mesma cor da farda. A mão em riste sinalizando para eu parar e o rosto de quem proíbe. "Não é mais permitido andar de bicicletas neste parque", disse. Sorri. O policial fechou a cara em retribuição, mas continuei sorrindo. Achei a situação tão ridícula que não pude responder, apenas ri e acatei a ordem do homem da lei. Vaguei um pouco empurrando a bicicleta e sentei-me em um dos bancos do anel externo. Introspectivo por causa do fim-de-tarde observava o movimento. Uma construção d'um prédio enorme se impunha, sisuda, no horizonte; sob sua sombra uma família de catadores de papel revirava o lixo, enquanto uma viatura da polícia passava olhando para a parte interna do parque como quem guarda a tranqüilidade daqueles que a podem pagar. Sorri novamente.