Sou o grito que guardo na garganta
giro tonto arrancado da poltrona
descobrindo fendas nas paredes
vomitando bile
cheirando vime
Sou quase a limpeza diária
mas morro de tédio
me faço vício, invento dores
conquisto bebedeiras
Sou o vão
finjo olhar constelações
minto minha dor para conquistar sensações
sonego olhares
Alegro no contato com a poeira
arranco um gemido surdo
do meu peito oco
Escrevo traços incertos
dedico feridas a deuses estranhos
vendo minha alma
a um soberano que há muito deixou
apenas como dádiva sua sombra
aos que como eu
não possuem nome.
quinta-feira, novembro 23, 2006
domingo, novembro 05, 2006
Saddam e suplício
O filósofo francês Michel Foucault diz em seu livro Vigiar e Punir que a passagem do suplício para formas de punição baseadas no encarceramento se deu não por "humanização" dos processos de punição, mas por uma mudança de tecnologia daqueles processos. Pois bem, como todos sabem Saddam Hussein, ex-ditador do Iraque, foi condenado à forca por seus "crimes de guerra". O que vemos nesse momento, me parece, é toda a máquina de guerra dos E.U.A. mostrando sua face. Bush e seus asseclas arquitetaram muito bem todo o teatro de captura e julgamento de Hussein caindo ambos em anos de eleições [presidência e congresso, respectivamente] na "América" [alguém aí acredita em coincidências?], transformaram todo o processo em cima do ditador em espetáculo. O suplício, diz Foucault, produz um espetáculo/ritual político que atesta o poder do soberano, restabelecendo a hierarquia em que o rei é mais poderoso que todos. Assim, a condenação à forca de Saddam Hussein servirá como uma punição espetacular reestabelecendo o Estado de Exceção e, de quebra, produzindo um mártir para a permanência da "guerra infinita" de Bush. O que fica claro é que para a permanência da Doutrina Bush vale tudo, indenpendentemente das tecnologias utilizadas para esse fim - sejam elas sutis ou não.
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