terça-feira, dezembro 25, 2007

Feliz Natal


Então é Natal. E eu me pergunto e daí e sigo o raciocínio de Raul Seixas e completo - tenho uma porção de coisas pra conquistar e não posso ficar aqui parado. Foi bem o que senti ontem na farta ceia que enchia os olhos e as bocas dos cristãos que insistem em partilharem alguns genes comigo. Eu alheio, já que aqui sob o sol quente do Dia de Natal não há nada a se comemorar; talvez mastigar seja isso mesmo: um ato bovino para ativar o esquecimento. Eu lá suspenso a um metro do chão, cercado de bocas e dentes gargalhando, soltando o ar que engolem seco o ano inteiro; a observar a chuva que caía anunciando nada mais que o vazio suspenso sobre nós, meros humanos. Nem Deus, nem o menino Deus, nem o Papai Noel, nem a porra do Roberto Carlos; nenhum deles irá nos salvar. Por isso comemoramos; uma desculpa partilhada para a família espantar junto o vazio que a cerca - sendo bastante otimista da minha parte. Bem que tentei, não deu. À frente do espelho puxei com os dedos o canto dos lábios e, mostrando os dentes, segurei até onde pude a posição incomoda. Os músculos foram mais fortes, o peso de não ter fé em algo fácil agiu de forma cruel. Catei uma caixa de cerveja que havia separado para emergências, liguei o som e, a cada gole, busquei um motivo para partilhar aquela alegria. Faltou o cigarro. Talvez fosse isso. A falta do cigarro fez toda a diferença - fill your heart with smoke -; a fórmula estava incompleta. Erro meu. Nietzsche na cabeceira até que tentou, a mensagem de uma amiga por volta da meia noite até que fez diferença - um sopro de leveza para uma alma cheia -, mas ontem não era o dia. Estava sem graça, selvagem, sem esperanças - não é o filósofo alemão que diz que a esperança é na verdade o pior dos males, já que prolonga o suplício dos homens?! Bem, se assim for, então ontem, no final das contas, estava bem. Ou pelo menos a um passo da sanidade - e a embriagues é para a sanidade, assim como a doença é para a saúde, uma medida de cura. Vai ver que o Natal é isso, cura para os sem esperança e alegria para que a conseguem fácil. O difícil é saber qual é o lado mais pesado. Tendemos sempre a achar que o nosso fado é maior - eu com certa alegria, ou ressaca, penso que o melhor é esquecer... seja lá o que for.... - que venha o próximo!