domingo, fevereiro 11, 2007
Bicicleta
Há mais de dois anos ando de bicicleta pelo menos três vezes por semana. O uso da bicicleta como meio alternativo de transporte me deu a possibilidade de conhecer minha cidade [pelo menos os bairros próximos] por uma perspectiva bem diferente, imperceptível de dentro da cabine de um carro. Assim como me forneceu a exata noção da selvageria que é o trânsito. Pedalando, posso perceber que os sinais de trânsito, assim como algumas de suas leis básicas, são mero adorno. Os automóveis vêem a cidade como passagem; as praças, as faixas de pedestres, os sinais, os ciclistas e os outros veículos são meros obstáculos que, se possível, deveriam ser eliminados. Parece-me que a verdadeira lei é a da SELVA.
Desde que re-descobri a bicicleta como meio de transporte tenho me interessado pelas organizações e movimentos de afirmação da bicicleta como meio de transporte alternativo. Descobri, por exemplo, que em várias cidades do mundo a bicicleta está cada vez mais incluída nos projetos híbridos de transporte. E que há movimentos por todo o planeta para o desmonte do modelo de transporte individual[ista] baseado no automóvel. Aqui, infelizmente, temos poucas iniciativas desse tipo, o governo ainda serve a um modelo excludente [e lucrativo] de transporte que favorece somente à indústria automobilística; por esse mesmo motivo torna-se quase impossível o uso de bicicleta [mesmo o de transporte público] como meio principal de locomoção nas grandes cidades brasileiras. O cidadão [e a cidade] sofre[m] com esse modelo que encerra a todos nós num inferno de carros e fumaça.
Projetos que valorizam o transporte público e a construção de ciclovias deveriam ter maior ênfase no Brasil, já que a grande maioria da população não possui automóvel e as grandes cidades já não os suportam. Mas, infelizmente, estamos ocupados demais para preocuparmos com "o caminho entre o trabalho e a nossa casa" que as cidades brasileiras se tornaram e não percebemos que estamos vivendo num inferno cotidiano, e reproduzindo-o todos os dias.
sábado, fevereiro 10, 2007
O pessimismo nos salvará
O fim-do-mundo é logo aqui, e isso é bom.
Explico: se a desesperança é a tônica dominante de nossas expectativas quanto ao futuro próximo [também o longínquo], não nos resta nada além do desapego. E, dizem, o apego é o mal do mundo. Portanto, minha cara, a desesperança nos libertará.
Explico melhor: se na década de 1950 e meados da 1960 o Brasil era o país do futuro e deu no que deu, agora que não temos tempo [nem espaço] para otimismos estamos livres, já que não temos mais apego algum para a idéia do Brasil como uma nação. E isso eu acho maravilhoso. Alguém já reparou nas merdas que aconteceram por conta dessa idéia obscena? Pois bem, o que irá nos salvar é a total desesperança no país. Sem uma idéia de nação a turvar-nos os sentidos podemos preocuparmo-nos com coisas mais importantes como: nós mesmos e nossa vizinhança.
Outra: se quando a humanidade pensava que estava numa locomotiva à mil, rumo a um futuro luminoso, e deu no deu. Podemos ver uma luz no fim do túnel agora que estamos caminhando para um apocalipse biológico. A humanidade com uma certeza é um perigo! É só lembrar das merdas que o cristianismo, o colonialismo e o socialismo já fizeram. É preciso um tragédia iminente, com a obscuridade agarrada a seus pêlos, para não saírmos como as bestas loucas que somos promovendo extermínios e passando por cima de nosso próprio habitat...
Bem, claro que nada é tão simples assim; afinal, a humanidade ainda não parou de fazer merdas [nem com o apocalipse sob os pés], nem os brasileiros tornaram-se um povo menos tosco - mas a desesperança já é um bom sinal. Ou eu que sou um otimista inveterado.
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